sexta-feira, 17 de abril de 2009

Dia Nacional da Bossa Nova

É um grande dia para a elite de pensadores brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que cria o Dia Nacional da Bossa Nova, que passa a ser celebrado no dia 25 de janeiro, no mesmo dia em que nasceu o célebre maestro Antônio Carlos Jobim. O projeto é de autoria do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). Com a grande repercussão dos 50 anos de Bossa Nova, vemos que a Bossa, esteve um pouco esquecida pela população, mas sempre esteve acesa nas grandes mentes pensantes do Brasil. E o que é a Bossa? O que isso vai mudar no cotidiano do brasileiro? Bom duas perguntas que se completam...
A Bossa foi um movimento musical elitista que surgiu nos meados de 1958, no Rio de Janeiro, o marco inicial é o álbum "Chega de Saudade" de Tom jobim, com músicas de autoria de Vinícius de moraes, João Gilberto e o próprio Tom. 'Bossa' era uma gíria da época que significava, jeito, maneira; e o termo 'Nova' vem do próprio contexto pós-guerra, queriam inovar, compor músicas com diferentes harmonias, poesias mais simples e novos ritmos. A tristeza e melancolia das letras, deixavam as músicas mais intimistas e as letras, às vezes complexas, destoava de algumas bandas da época. Isso fez com que a Bossa se tornasse um estilo de vida mais relaxado. A juventude bronzeada do Rio de janeiro passou a escutar a bossa e disseminá-la. Muitos críticos americanos dizem que a bossa foi uma cópia do jazz. Pasmem, é mentira. Ao rever as datas notemos que na mesma época em que surgia a Bossa Nova no Mundo através da voz de Farnésio Dutra (conhecido mundialmente por Dick Farney), explodia Frank Sinatra, o grande ícone americano que se curvou perante a realeza da música brasileira e, destoavam os dois ritmos, um era violão e só, o outro, era guitarra com muitos instrumentos de sopro. A Bossa Nova que saiu do Rio de Janeiro, ganhou o Mundo.
Por ser um estilo mais refinado, foi levemente sufocado nas camadas populares da sociedade, e com a ditadura militar brasileira, a Bossa se tornou um meio de manifestação, brilhantemente não se rendeu ao AI-5, continuou a ser produzida de uma maneira mais subjetiva e espetacular.
Hoje, a Bossa é muito pouco escutada, muito pouco interpretada e, menos ainda compreendida. Por isso, ao colocar uma data nacionalizando a Bossa, não interfere no cotidiano dos brasileiros, mais aquece novamente a chama de que ainda podemos fazer algo que o mundo respeita.


-Segue uma cópia da Lei:

PROJETO DE LEI No. , de de 2005.
(Do Sr. Deputado Chico Alencar)


Institui o dia 25 de janeiro como
"Dia Nacional da Bossa Nova".


O CONGRESSO NACIONAL DECRETA:

Art. 1o. - Fica instituído o Dia Nacional da Bossa Nova, a ser comemorado em todo território nacional no dia 25 de janeiro.

Art. 2o. - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.


JUSTIFICAÇÃO

A data de nascimento de Tom Jobim, 25 de janeiro, foi escolhida em homenagem ao gênio da música brasileira e um dos maiores autores da bossa nova. Além da homenagem ao movimento, o Brasil estará reverenciando este grande mestre, nascido neste dia no ano de 1927.
A bossa nova é um dos movimentos mais importantes da história da música brasileira, reconhecida e aplaudida no mundo inteiro. Sua importância e a grande contribuição para a projeção da imagem do Brasil no exterior é ressaltada por renomados críticos e escritores.
Surgida no final da década de 50 a bossa nova revolucionou o estilo musical brasileiro, com sua batida sincopada e acordes dissonantes.
O mundo até hoje não conheceu nada igual e a bossa nova se perpetua como a "a bandeira do Brasil no exterior". Seus compositores e intérpretes continuam produzindo e se apresentando em shows no mundo inteiro. A bossa nova continua sendo homenageada, tocada, ouvida e reverenciada e já se apresenta com novos arranjos eletrônicos e intérpretes da nova geração.
Em 1956, estreou no Theatro Municipal "Orfeu da Conceição", espetáculo de autoria de Vinicius de Moraes, cuja trilha registrou o início da parceria do poeta com Tom Jobim. Adaptado para o cinema alguns anos depois por Marcel Camus com o título de "Orfeu Negro". O filme recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Em 1958, João Gilberto gravou o disco que é considerado o marco inicial da bossa nova, com 78 rotações, lançado pela Odeon. O LP incluiu as canções "Chega de saudade", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes e "Bim Bom", de sua própria autoria. Entretanto, sua famosa "batida" de violão já estava presente antes, como mais uma balize do movimento, em duas faixas do histórico LP "Canção do amor demais", de Elizeth Cardoso. O fato de Elizeth ser uma cantora já reconhecida pelo público acaba por selar a fértil parceria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Em novembro de 1962, ocorre um dos maiores avanços para este movimento: o Concerto do Carnegie Hall, que levou para Nova York artistas como Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Oscar Castro-Neves, Chico Feitosa, Luiz Bonfá, Agostinho dos Santos, Sérgio Ricardo, Durval Ferreira e Sergio Mendes, dentre outros. O Teatro lotado aplaudiu de pé aquele novo estilo. Na platéia, as presenças de Miles Davis, Gerry Mulligan, Dizzy Gillespie, Erroll Garner e Herbie Mann que ficaram fascinados com o que ouviram. Logo depois, Carlos Lyra, Oscar Castro Neves, Tom Jobim e outros artistas que participaram do concerto do Carnegie Hall se apresentaram na Casa Branca, em Washington, em um pequeno show fechado para a então primeira-dama Jacqueline Kennedy. A bossa nova ganha com estes eventos projeção internacional.
O escritor Fernando Sabino, antes da partida de Tom Jobim, já anteviu o sucesso da apresentação do Carnegie Hall com a célebre frase: - "Você tem que ir, Tom. A partir dessa noite o mundo vai te ouvir"!
A repercussão do Concerto do Carnegie Hall foi sentida já no ano seguinte. Em março de 1963, João Gilberto e Tom Jobim gravaram ao lado de Stan Getz o antológico LP "Getz/Gilberto - Featuring Antonio Carlos Jobim". O disco, que contou com a participação de Astrud Gilberto, gerou o single "Garota de Ipanema", estrondoso sucesso daquele ano, em versão para a língua inglesa; a gravação de Garota de Ipanema por Frank Sinatra e a permanência de vários artistas brasileiros, como Airto Moreira, Flora Purim, Eumir Deodato, Sérgio Mendes e tantos outros que fixaram residência nos Estados Unidos.
Este movimento musical se inscreve como um dos mais marcantes da história da música brasileira, sobretudo pela projeção que deu à nossa música, no exterior. Como diz o escritor Ruy Castro, autor de Chega de Saudade e A onda que se ergueu no mar, da Cia. das Letras, a bossa nova é um dos gêneros musicais de maior sucesso em todo o mundo - às vezes mais reconhecida no exterior do que no Brasil.
A singularidade da bossa nova, reconhecida hoje no mundo inteiro como a "bandeira do Brasil no exterior" é ressaltada pelo poeta e importante letrista Vinícius de Moraes na frase abaixo, usada na contracapa de um LP de Paul Winter: - "Ela é uma filha moderna do samba tradicional, que teve o seu namoro com o jazz, sobretudo o chamado west coast, mas que - tal como praticam seus melhores homens: Jobim, João Gilberto, Lyra, Menescal, Donato, Castro Neves e Baden Powell - não sofreu nenhuma descaracterização nem perda de nacionalidade".
A instituição do Dia Nacional da Bossa Nova, além de ser uma merecida homenagem ao significado e importância do movimento na trajetória da música brasileira, é uma contribuição para a valorização de seus compositores e intérpretes.


Sala das Sessões, 15 de dezembro de 2005.

Chico Alencar
Deputado Federal, PSOL/RJ

Até. ;)

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